24.6.02


Educação e Tecnologia


Educação e Tecnologia

Quando se fala em educação e tecnologia a maioria das pessoas imediatamente pensa no uso da tecnologia para melhorar o ensino do professor em sala de aula, para transmitir informações de forma mais eficiente e atraente. Pressupõem, assim, ingenuamente, que educação e ensino são termos sinônimos e que usar a tecnologia na educação é usar a tecnologia para ensinar melhor matemática, física, química, biologia, história, geografia, etc.

Bill Gates, por incrível que possa parecer aos que não o conhecem muito bem, tem uma visão muito mais correta da questão do que a maioria dos educadores. Em um vídeo chamado "The Connected Learning Community", Gates diz que a tecnologia vai mudar a educação (sic; não o ensino) por colocar pessoas em contato com pessoas e com a informação de que precisam para fazer o que desejam.

Há muitas coisas importantes -- e absolutamente corretas -- na posição de Gates.

Primeiro, a ênfase que ele coloca no fato de que a educação se faz através da interação entre pessoas, não da interação de uma pessoa com uma máquina (mesmo que uma máquina seja usada para colocar uma pessoa em contato com outra).

Segundo, o conseqüente reconhecimento de que o computador vai afetar a educação muito mais por ter se tornado um meio de comunicação interativa do que por ser um equipamento de processamento de informações.

Terceiro, a ênfase que ele coloca na aprendizagem, e não no ensino. A aprendizagem pode ocorrer em decorrência do ensino. Mas a aprendizagem que permanece e tem significado para o aprendente é aquela que acontece quando ele, assumindo uma postura ativa, interage com outras pessoas busca de resposta às suas perguntas ou de soluções para os seus problemas.

23.6.02


A Escola, a Ciência, e o Estado


A Escola, a Ciência, e o Estado

Paul Feyerabend, em Contra o Método, argumenta que devemos separar a escola da ciência -- quebrar o monopólio que o saber científico tem sobre a escola, tornando possível, por exemplo, que magia negra, voodoo, etc., também possam ser ensinadas na escola como empreedimentos tão legítimos como a ciência.

Isso é, naturalmente, loucura de Feyerabend, pois o que dá à ciência (como ela deve ser praticada -- vide Popper) suas credenciais, e, portanto, lhe abre as portas da escola, é a racionalidade. A sugestão de Feyerabend é equivalente à tese de que não há distinção válida entre razão e não-razão, racionalidade e irracionalidade (tese absurda que, a meu ver, ele realmente defende).

O que devemos separar é a ciência e a educação do estado, eliminando o controle que o estado exerce sobre a pesquisa científica e a escola.

A propósito, Ayn Rand, em Atlas Shrugged, argumenta que a expressão "Pesquisa Científica Livre" é um pleonasmo -- e que, portanto, "Fundação Nacional da Ciência" é uma contradição de termos.


A Educação e o Estado


A Educação e o Estado

Recomendo sem reservas um livro que trata do tema acima do ponto de vista histórico e filosófico: E. G. West, Education and the State (3a. edição, The Liberty Fund).


A Educação e a Escola


A Educação e a Escola

Ivan Illich sugere que, da mesma forma que a fé e a igreja tiveram que se separar um dia, a educação e a escola devem se separar. A igreja, que foi criada para ser o local privilegiado em que a fé era cultivada, tornou-se, um dia, um obstáculo à fé. A escola, hoje, está se tornando, segundo Illich, um obstáculo à educação.

Apesar de a igreja e a escola poderem ser controladas pelo estado (mesmo que se argumente que não o devam), a fé e a educação não devem -- porque não podem!


Educação e Direito de Escolha (Liberdade)


Educação e Direito de Escolha (Liberdade)

No Brasil, atualmente, um casal cujos filhos chegam à idade escolar tem alguma liberdade (direito a algumas escolhas) -- mas não muita(s).

O casal não tem, por exemplo, a liberdade (o direito) de educar seus filhos em casa: é obrigado pelo governo a colocá-los na escola. Recentemente um casal lutou por esse direito, mas não o teve reconhecido, o governo argumentando que toda criança com idade entre 7 e 14 anos tem que estar na escola. Esse direito foi negado apesar da inegável competência da mãe das crianças de educá-las (era professor) e apesar de o casal se dispor a submeter as crianças educadas em casa aos exames requeridos pelo governo ou mesmo aos exames de uma escola pública indicada pelo governo.

A única escolha (liberdade) básica que um casal cujos filhos chegam à idade escolar tem é de optar por colocá-los na escola pública ou na escola privada. Se o governo devolvesse aos casais que optam por colocar seus filhos na escola privada, e, portanto, optam por não usar a escola pública, o dinheiro correspondente ao custo dessas crianças na escola pública, essa escolha (liberdade) seria mais significativa. Do jeito que são as coisas, o casal que opta por colocar seus filhos na escola privada "paga duas vezes" pela educação de seus filhos: paga pela educação que recebem na escola privada e paga, através de seus impostos, para custear a escola pública que seus filhos não estão usando.

Se um casal escolhe colocar seus filhos na escola pública, não tem escolha direta sobre a escola que eles vão freqüentar, pois, em geral, as crianças são obrigadas a freqüentar a escola pública mais próxima de sua residência (mesmo que os pais prefiram uma outra). Para conseguir que os filhos freqüentem uma outra escola pública os pais são obrigados a mudar de residência, o que pode envolver ônus financeiro (ou, então, a mentir sobre sua residência).

As escolas públicas, assim, têm uma clientela cativa, independentemente de sua qualidade.

Uma forma de melhorar a qualidade da escola pública seria dar aos pais um "voucher" por filho em idade de escolarização obrigatória que fosse equivalente ao custo médio de um aluno na escola pública e deixar que eles escolhessem a escola que gostariam que seus filhos freqüentassem (ainda que privada -- ficando os pais responsáveis por complementar o valor do "voucher" caso a escola fosse mais cara do que o custo médio de um aluno da escola pública. Essa medida não acarretaria aumento de gastos para o poder público e obrigaria as escolas públicas a entrar num regime de competição, até mesmo com as escolas privadas, melhorando, assim, sua qualidade -- ou, então, ficando sem alunos e sendo obrigadas a dispensar os seus professores e a fechar suas portas, porque sua manutenção viria dos "vouchers", e não de repasse direto de recursos por parte do poder público.

Essa medida, se acoplada à eliminação da obrigatoriedade da escolarização, poderia também eliminar o absurdo que existe hoje no Brasil, de o governo oferecer uma escola gratuita à população (paga com impostos gerais) e, por cima, ainda pagar a população para colocar seus filhos nela (através da "bolsa-escolas"). Os pais que não desejassem colocar seus filhos na escola não receberiam nenhum "voucher", pois este seria destinado apenas aos pais que tivessem seus filhos comprovadamente matriculados em uma escola -- pública ou privada, sendo ambas pagas pelos usuários, com o recurso fornecido pelos "vouchers".


Modalidades de Escolas, Segundo a Relação com o Poder Público


Modalidades de Escolas, Segundo a Relação com o Poder Público

Modalidades "Puras":

a) Escola estatal (totalmente financiada pelo poder público)

b) Escola privada sem fins lucrativos (sem nenhum recurso público)

c) Escola privada com fins lucrativos (sem nenhum recurso público)

Modalidades "Mistas":

a) Escola estatal com parcerias privadas (com entidades lucrativas ou não-lucrativas)

b) Privada sem fins lucrativos subsidiada pelo poder público

c) Privada com fins lucrativos subsidiada pelo poder público

Modalidade "Especial"

a)Escola privada que recebe alunos subsidiados pelo poder público (através de "vouchers", por exemplo)

(Neste caso o subsídio não é dado à escola: é dado ao aluno ou à sua família.)


O Estado e a Educação


O Estado e a Educação

Há diferentes níveis em que o estado pode interferir com a educação (mais especificamente, com a escolarização) das pessoas:

a) Tornando a educação (ou melhor, a escolarização) obrigatória;

b) Regulamentando e fiscalizando a educação ministrada pelas escolas (todas privadas);

c) Financiando a educação (escolarização) -- pelo menos aquela que é obrigatória;

d) Ministrando ele próprio a educação -- pelo menos aquela que é obrigatória -- em escolas estatais, mas admitindo a existência de escolas privadas;

e) Considerando a educação um monopólio estatal mas admitindo que a iniciativa privada possa participar da educação no regime de "concessão";

f) Considerando a educação um monopólio estatal e proibindo a iniciativa privada de ministrar a educação, i.e., de possuir escolas, promovendo, assim, a total estatização (nacionalização) da educação.

Nos níveis a-c o estado não ministra a educação -- não tem escolas. Nos níveis d-f o estado ministra a educação -- tem escolas. Nos níveis d-e as escolas estatais convivem com escolas privadas; no nível f, não.

27.2.02


A Educação, o Indivíduo e a Sociedade


A Educação, o Indivíduo e a Sociedade

A educação é um processo que atua no nível do indivíduo. Se esperamos que a educação dê alguma contribuição para a mudança da sociedade, essa contribuição será forçosamente mediada pela ação de indivíduos.

Assim, não faz o menor sentido imaginar que, para mudar a educação, precisamos, primeiro mudar a sociedade.

A sociedade só será mudada se indivíduos resolverem mudá-la -- e eles só resolverão mudá-la se, mediante sua educação, se convencerem da necessidade de fazê-lo.


A Educação Deve Ser Agradável


A Educação Deve Ser Agradável

A educação deveria ser a coisa mais agradável que existe, pois envolve a construção de nossa vida, daquilo que queremos e pretendemos ser. É um crime a escola, que deveria ser o principal agente da educação, ter se tornado chata, enfatizando aprendizados que nada têm que ver com a vida.